Moradores de prédios interditados de Conjunto Beira-Mar tentam recomeçar: 'Eu durmo e acordo chorando'
Desde que
parte de um dos blocos do Conjunto Beira-Mar, em Paulista, no Grande Recife,
desabou, as famílias que moravam nos prédios interditados do residencial
encaram um destino incerto, alugando imóveis em outros lugares ou se mudando
para casas de parentes. Em uma entrevista, os agora ex-moradores do condomínio,
localizado no bairro do Janga, contaram o que estão fazendo para recomeçar a
vida.
Até esta
terça-feira (11), 16 prédios do conjunto residencial foram desocupados, segundo
a prefeitura de Paulista.
A dona de
casa Maria da Conceição de Souza estava dormindo com os cinco filhos quando o
bloco ao lado de onde moravam desabou. Do segundo andar, conseguiu sair por
cima dos escombros, apenas com a roupa do corpo. Agora, está morando de favor
na casa da cunhada.
"Tudo o
que é meu está no apartamento. A gente não pode levar nada. Eu durmo e acordo
chorando. Sem ter para onde ir. Eu queria estar na minha casa. Fico aqui, mas
não é a mesma coisa. Porque a gente quer ter privacidade, que não tem
mais", afirmou Conceição, emocionada.
Maria da
Conceição teve que se ajeitar no terraço da casa, onde dorme com os filhos em
colchões doados.
"A
gente dorme aqui no chão. Quando não quero dormir aqui, durmo na casa da minha
menina. Gosto de ficar lá porque ela está grávida. Os meninos ficam aqui. E
nisso vai. Uma noite, uma noite lá", contou.
'Só
pedindo a Deus'
Outra dona
de casa, Adriana da Silva, se mudou com o filho Juarez, de 17 anos, para a
residência de uma amiga que lhes ofereceu abrigo, numa comunidade próxima.
"O que
a gente tem está sendo doado; são as roupas, um calçado, alimentação. E o
restante, só pedindo a Deus, e esperar por doações. O que eu vi, a situação,
não vai sair [da memória]. Não tem como, de jeito nenhum. É fechar o olho, a
cena das coisas todas no chão, aquele desespero, aquela nuvem de poeira",
afirmou Adriana.
Moradores do
Conjunto Beira-Mar há 12 anos, eles conheciam todas as pessoas do prédio que
desabou.
"Não
era propriedade nossa, mas a gente tinha com muito amor. A gente cuidava,
zelava como uma coisa que a gente tinha. Porque, até então, a gente tinha onde
morar. A gente, realmente, nasceu de novo", comentou Juarez.
'Infelizmente,
não tem como ficar'
Para os
moradores que conseguiram retirar seus pertences, a prefeitura disponibilizou
caminhões baú para ajudar na mudança.
O marceneiro
Múcio Alves é dono de um apartamento do Bloco D, um dos edifícios interditados
que fica ao lado da estrutura que desmoronou na semana passada. Ele, a mulher e
os filhos, que moravam no local há 16 anos, alugaram uma casa no bairro de Pau
Amarelo, na mesma cidade.
"Infelizmente,
não tem como ficar aqui. Os prédios estão todos condenados. Não tem condições
de moradia. Em metade da minha vida, eu moro aqui. Bons vizinhos... Não é
vizinho, é família, é parente, é tudo. A gente fez grandes amizades. E hoje
cada um vai pro seu lugar. Mas espero que a gente mantenha contato", disse
Múcio.
A auxiliar
administrativa Luiza Araújo conseguiu achar uma casa para alugar perto do
conjunto residencial. Ela e a mãe moravam num apartamento, a tia em outro e os
avós, num terceiro. Todos viviam no mesmo bloco interditado.
"A gente vê nossa vida, nossa infância,
nosso bem, e ter que deixar dessa forma é complicado. Além de estar procurando
aluguel às pressas, e muita gente se aproveitando e aumentando o preços dos
aluguéis e, infelizmente, a gente tem que aceitar o preço que é passado. Não
tem como nem dizer 'não'. Porque a gente vai pra onde? Ficar no meio da
rua?", declarou