Em decisão histórica, Câmara aprova Reforma Tributária em segundo turno
Em uma
decisão histórica, a Câmara dos Deputados aprovou o texto-base da Reforma
Tributária em segundo turno, a primeira grande modificação no sistema de
impostos do país em 58 anos. O texto foi aprovado por 375 votos a favor e 113
contra nessa segunda rodada de votações.
Com a queda
do quórum na madrugada desta sexta-feira, porém, o presidente da Câmara, Arthur
Lira (PP-AL), encerrou a sessão sem a votação de quatro destaques (propostas
para alterar o texto). Uma nova sessão já foi convocada para as 10h.
Amanhã (sexta-feira) o painel abre às 7h e a
sessão se inicia para a votação dos últimos destaques às 10h para terminarmos
os destaques remanescentes. O sistema híbrido estará liberado. Estamos com
dificuldade de quórum, 450 (deputados) até agora — explicou Lira pouco antes
das 2h.
Os quatro
destaques são do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro. Eles tratam da
base de cálculo do imposto, regime específico de cobrança para planos de saúde
e benefícios fiscais do ICMS. A expectativa é que todos sejam rejeitados.
O projeto
substitui três tributos federais, o ICMS e o ISS por apenas dois impostos sobre
bens e serviços. No primeiro turno, o placar foi de 382 votos a favor, 118
contrários e 3 abstenções e superou com folga o mínimo necessário para
aprovação de uma emenda constitucional, que era de 308 votos.
Para chegar
a esse resultado, o relator da proposta, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), fez uma
nova versão do texto, atendendo boa parte dos pedidos de governadores e
parlamentares.
Antes de dar
início à votação, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que o
país estava diante de um momento histórico e da mais importante mudança constitucional
no país desde a redemocratização:
Vivemos um
momento histórico para as nossas vidas parlamentares e para o país. O Brasil
espera uma reforma justa, neutra e que dê segurança jurídica. Não podemos nos
furtar a esta responsabilidade.
O relator
fez um discurso emocionado após a votação no qual destacou que a reforma é um
projeto do Estado brasileiro.
É um momento
histórico, estou vivendo um momento único na minha vida. Este não é um país que
olha para a direita nem para a esquerda, é um país que olha para a frente.
Sul e
Sudeste ganham peso
O ministro
da Fazenda, Fernando Haddad, comemorou o resultado nas redes sociais.
“Depois de
décadas, aprovamos uma Reforma Tributária. Democraticamente. Parecia
impossível. Valeu lutar”, escreveu, destacando que a reforma não é uma proposta
de governo, mas uma necessidade para fazer com que a economia e a produtividade
avancem no país.
As rodadas
de conversas do relator com os estados foram cruciais para viabilizar a
aprovação. O texto conseguiu apoio de governadores do Sul e do Sudeste,
inclusive de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, como o governador de São
Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Ainda assim, não houve unanimidade
entre governos locais.
Freitas, que
havia despontado como um dos maiores críticos ao texto, antes de endossar o
projeto na véspera da votação, informou por meio de assessores que, embora não
considere o texto ideal, ele é visto como o possível e fruto de negociações até
a última hora.
A bancada de
São Paulo votou majoritariamente a favor da proposta. O governador do Rio
Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), disse que as mudanças foram acordadas.
Ao longo do
dia, o apoio de Tarcísio ao projeto foi alvo de críticas de Bolsonaro, que se
disse “chateado” com o governador de São Paulo e de aliados. Ainda assim, o
partido do ex-presidente somou 20 votos a favor da proposta.
Um dos
pontos de maior divergência dos governadores em relação ao texto original era o
modelo de criação do conselho federativo, que será responsável pela gestão e
partilha de recursos do novo IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), que vai
reunir o ISS (municipal) e o ICMS (estadual).
Os
governadores temiam perda de autonomia e um desequilíbrio de forças entre os
estados. Com o novo formato, o conselho terá representação paritária. Os
estados terão 27 representantes, um para cada estado e o DF.
Os
municípios poderão indicar 27 membros, dos quais 14 com base nos votos de cada
município, com valor igual para todos, e 13 representantes com base nos votos
de cada cidade considerando as respectivas populações.
O processo
de tomada de decisões será feito com base na maioria absoluta, ou seja, será
preciso ter um mínimo de 14 votos entre os estados. Além disso, o grupo de
estados vencedor precisará representar 60% da população brasileira. Se o grupo
perdedor representar a maioria da população, poderá vetar a decisão. Na
prática, essa medida amplia o peso do Sudeste e do Sul do país no conselho.
O governador
de Goiás, Ronaldo Caiado (União), disse que vai entrar com um recurso no
Supremo Tribunal Federal (STF) contra a reforma. Para ele, a nova regra do
conselho federativo privilegia São Paulo, Rio e Minas. Aliado de Bolsonaro, o
governador de Santa Catarina, Jorginho Mello, também divulgou texto contra a
proposta.
Debate no
Senado
Outra
demanda dos estados, porém, não foi contemplada no texto final aprovado: o da
definição de critério de repartição do Fundo de Desenvolvimento Regional (FDR).
O Comitê Nacional de Secretários Estaduais de Fazenda (Comsefaz) defendia que
estados mais pobres tivessem prioridade para receber recursos do fundo, que se
destinam a investimentos.
O governador
do Piauí, Rafael Fonteneles, disse que os governadores do Norte e Nordeste
tentarão incluir no Senado os critérios de divisão dos recursos. O governo deve
destinar um montante máximo ao ano de R$ 40 bilhões.
Queremos os
critérios na PEC, mas não vamos impedir a votação aqui. Vamos tentar no Senado
— afirmou Fonteneles.
Estudo
divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) afirma que
a reforma vai impulsionar o crescimento da economia e a geração de empregos.
Para Armando
Monteiro, conselheiro da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a aprovação
do texto é um gesto positivo para investidores.
A sinalização dessa aprovação, para o país, é
que o Congresso está comprometido com a agenda de reformas, uma agenda que
precisa avançar para melhorar o ambiente de negócios no país.