Mulher contrai raiva humana após ser mordida por sagui; caso é o primeiro confirmado em PE em oito anos
Pela
primeira vez em 8 anos, Pernambuco registrou um caso de raiva humana no estado.
A informação foi confirmada nesta quinta-feira (9), pela Secretaria Estadual de
Saúde (SES). De acordo com o governo, a paciente é uma mulher de 56 anos, que
foi atacada por um sagui no dia 28 de novembro.
A mulher é
natural de Santa Maria do Cambucá, no Agreste. Ela tinha uma lesão na mão
esquerda e, no dia 31 de dezembro de 2024, deu entrada no Hospital
Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), em Santo Amaro, no Centro do Recife. O local
onde a paciente está internada é referência no atendimento de doenças
infecto-contagiosas.
Nove dias
depois da internação, na quarta-feira (8), um exame realizado pelo Instituto
Pasteur confirmou a contaminação por raiva.
Segundo a
SES, na época em que foi internada, ela apresentava um quadro de dormência que
se estendeu para o tórax. Além disso, ela também sofria de dores e fraqueza. No
dia 2 de janeiro deste ano, ela teve piora significativa e foi intubada.
De acordo
com a Universidade de Pernambuco (UPE), responsável pelo Huoc, a paciente
também apresentou quadro neurológico grave de agitação, além de insuficiência respiratória.
Ela está sob sedação profunda e não tem sinais de infecção bacteriana
secundária.
Ainda
segundo a UPE, a paciente "continua sendo monitorada pela equipe médica
acerca de possíveis complicações da doença, seguindo com o tratamento e
observando caso apareça algum aumento significativo dessas dificuldades".
Animal pode
ter fugido de queimada
Segundo o
diretor geral de Vigilância Ambiental do estado, Eduardo Bezerra, a mulher mora
numa área de ocupação relativamente nova, e, nos dias anteriores ao contato da
paciente com o animal, ocorreram queimadas na região, que resultou na fuga do
animal de uma mata.
"[Ela
mora] no que a gente chama de franja de cidade, que é aquilo que vai terminando
a área urbana, e isso faz com que esses animais estejam mais próximos. Houve
relatos de que tiveram queimadas na imediação, e isso fez com que a gente
observasse essa migração desses animais. Com animal silvestre a gente sempre
precisa ter muito cuidado. O sagui é mais complicado, porque ele é sempre muito
carismático, porque ele tem essa imagem que dá para chegar mais perto, e não
pode", afirmou.
Eduardo
Bezerra também disse que a mulher chegou a procurar atendimento médico numa
unidade municipal e foi orientada a fazer o esquema de profilaxia, mas não fez
o tratamento. Em 30 dias, que é o curso natural da doença, o quadro se agravou.
Ele informou que, nos primeiros dias, os sintomas da raiva podem ser
confundidos com os de outras doenças, como os de uma arbovirose.
"Assim
que foi mordida, ela procurou o hospital, foi recomendado o esquema, mas ela
não retornou. [O esquema é de] soro e quatro doses de vacina. Quando é animal
silvestre, é obrigatório isso. O animal doméstico, não. Ele pode ser observado.
Mas o animal silvestre você tem que fazer. Ela não retornou para poder fazer o
tratamento e aí já voltou para o hospital, que viu a necessidade de vir para o
Recife", declarou.
O que é raiva
humana?
A raiva
humana é causada pelo vírus do gênero Lyssavirus, que é encontrado geralmente
em morcegos hematófagos, que se alimentam de sangue. De acordo com a SES, a
taxa de letalidade é de 100%.
De acordo
com o Ministério da Saúde, entre 2010 e 2024, foram registrados 48 casos: nove
causados por mordidas de cães; 24, por morcegos; seis, por primatas não
humanos; dois, por raposas; quatro, por felinos; e um, por bovino.
A doença
pode ser transmitida ao ser humano pelo contato com saliva e secreções de
mamíferos infectados, sejam eles cães, gatos, macacos, bovinos, porcos, além do
próprio morcego, entre outros. Os sinais podem permanecer de 2 a 10 dias após o
período de incubação.
Apesar da
taxa de letalidade ser considerada de 100%, em 2009, um adolescente
pernambucano de 16 anos foi o primeiro brasileiro a se curar da raiva humana.
Marciano Menezes da Silva estava dormindo quando foi mordido por um morcego e
contaminado pela doença. Ele foi internado no Huoc, onde foi tratado.
A prevenção
contra a raiva pode ser feita por meio da vacinação. A vacina é administrada
tanto em humanos quanto em animais de estimação.
De acordo
com a UPE, em caso de agressão por animais silvestres, a primeira medida a ser
tomada é procurar assistência médica para que seja realizada a profilaxia. O
profissional de saúde vai analisar e decidir se é necessário tomar a vacina ou
soro contra a raiva.
Todos os
anos, o governo realiza uma campanha de vacinação antirrábica. A imunização de
cães e gatos é essencial para proteger os animais e evitar a transmissão do
vírus para os seres humanos.