Putin anuncia início de operação militar russa na Ucrânia
O presidente russo Vladimir Putin anunciou uma operação militar
na Ucrânia durante um pronunciamento feito na madrugada de quinta-feira (24),
no horário russo. Segundo Putin, as circustâncias demandavam uma ação russa no
leste do país vizinho.
"A Rússia não pode se sentir segura [com a ameaça
ucraniana] e não temos outra escolha a usar os meios que estou prestes a
anunciar. Eu declarei o início de uma operação militar especial", afirmou
Putin, que citou que os ucranianos teriam "cruzado a linha vermelha da qual
eu falei várias vezes".
Durante o anúncio, Putin ainda disse que a Rússia não deseja
ocupar a Ucrânia, e que o país busca apenas a desmilitarização e a
desnazificação do país do vizinho. Ele ainda alertou que qualquer país que
tente intervir "poderá sofrer consequências que eles nunca viram
anteriormente".
Mais cedo,
nesta quarta (23), o Parlamento da Ucrânia aprovou uma declaração de estado de
emergência válida para todo o país, exceto para as duas regiões no leste, onde
já há uma medida do tipo em vigor desde 2014.
Nessa
situação, o governo pode impor restrições de deslocamento, na distribuição de
informações e no que é divulgado na mídia, além de introduzir conferência de
documentos de cidadãos. O presidente Volodimir Zelenski propôs a introdução do estado
de emergência mais cedo, diante de uma possível ofensiva militar russa de larga
escala, já esperada pelo país e também pelos Estados Unidos.
Por que a
Rússia quer invadir a Ucrânia?
Um dos
pilares da antiga União Soviética, a Ucrânia votou sua independência em 1991,
em evento histórico que foi um dos grandes marcos da queda e dissolução
soviética. Com isso, a Otan ganhou força na região ao passo que os russos foram
perdendo pouco a pouco seu domínio local.
Em 2004, a
Otan adicionou as ex-repúblicas soviéticas no Mar Báltico Estônia, Letônia e
Lituânia. Quatro anos depois, declarou sua intenção de oferecer a adesão à
Ucrânia, o que acendeu a luz vermelha na Rússia. Vladimir Putin, presidente
russo, considerou a ação do grupo uma ameaça existencial ao seu país e
considerou a perspectiva de inclusão ucraniana no grupo como ‘ato hostil’.
Desde então
não foram poucas as vezes em que Putin, em aparições públicas, enfatizou que a
Ucrânia faz parte da Rússia cultural, política e linguisticamente. E é aí que
nasce o principal motivo do confronto: parte da população do leste ucraniano,
mais próximo à Rússia, carrega esse mesmo sentimento; outra parte, mais
nacionalista e ao oeste, mais próximo da Europa central, quer a separação
total.
A crise
armada data de 2014, quando um presidente pró-Rússia foi tirado do poder por
protestos populares que contaram com adesão em massa da população ucraniana. A
convocação dos atos, conhecidos à época como Euromaidan, aconteceu após uma
negativa ucraniana adesão à União Europeia
A resposta
russa veio rapidamente: anexo da Crimeia e fomentação de uma região que já
contava com forte sentimento pró-Rússia. Armados, os separatistas iniciaram a
ofensiva e como resposta viram a Ucrânia
passar a controlar a região de Donbas. Um cessar-fogo foi assinado em 2015, mas
desde então as linhas de frentes de ambos os países seguem posicionadas para a
guerra, em um conflito que já matou 14 mil e criou uma massa de 1,5 milhão de
desabrigados na Ucrânia.
No final de
2021, Putin fez uma série de exigências à Otan, em negociação que não foi
concluída. Desde então, a iminência de uma possível investida dos aliados para
trazer a Ucrânia para seu grupo, aliada às fortes pressões na fronteira e o
retorno de disputas entre separatistas e nacionalistas, a situação voltou a
ficar instável na região.
Desde o
final de 2021, a tensão entre Rússia e Ucrânia tem sofrido uma escalada que
pode culminar em uma guerra no Leste Europeu.
Mais de 100
mil soldados russos foram deslocados para a fronteira ucraniana, o que foi
interpretado como uma ameaça de invasão ao território vizinho.
Quais são
os arsenais de guerra de Rússia e Ucrânia?
O fato da
Rússia possuir um arsenal e um exército muito maior que o da Ucrânia não é
nenhuma novidade, mas a extensão de desvantagem do segundo país pode não ficar
clara num primeiro momento.
Uma pesquisa
realizada pela Global Firepower avaliou as forças militares dos dois países
previstas para 2022, e os resultados indicam que a Rússia tem tudo a seu favor
em todos os aspectos.
Com relação
ao arsenal de pessoas, a Ucrânia fica para trás com 220 mil soldados, enquanto
a nação maior contabiliza 850 mil.
Com relação
a arsenal aéreo e naval, a Rússia lidera com mais de 4 mil e 605, contra 318
aeronaves e 38 navios ucranianos respectivamente.
Os tanques
de guerra e veículos blindados da ex-União Soviética totalizam cerca de 42 mil
unidades, enquanto a Ucrânia soma pouco mais de 14 mil.
Os
ucranianos também saem em desvantagem do arsenal aéreo, totalizando 103 peças
entre helicópteros de ataque e jatinhos, enquanto os russos possuem mais de mil
unidades.
Por fim, a
Ucrânia possui apenas uma fragata e nenhum navio destruidor, enquanto a Rússia
possui 26 unidades totais de barcos.
Portanto,
ainda não é possível medir o nível de destruição que ocorrerá caso o presidente
Putin decida invadir o oeste.
Como a
Ucrânia está treinando civis para o caso de a Rússia invadir?
A Ucrânia
realizou treinamento militar para defesa de moradores de Kiev, capital do país.
Segundo informações da agência Getty, a iniciativa do treinamento foi de
membros do partido de extrema-direita, chamado Setor Direito. Civis estão sendo
aprendendo a usar armas e detectar explosivos, além de praticarem exercícios de
medicina tática.
Agências
internacional de notícias mostraram imagens de mulheres, homens e até mesmo
crianças segurando armamentos de grande alcance. Uma pesquisa feita pelo
Instituto Internacional de Sociologia de Kiev, feita em dezembro, apontou que
58% dos ucranianos estão prontos para pegar em armas e defender o país. Entre
as mulheres, o índice é de 12,8%.
Aos sábados,
civis de todas as idades vão para florestas ao redor da capital Kiev para
participar dos treinamentos de defesa.
Quantas
pessoas a Ucrânia tem precisando de ajuda humanitária?
Desde que a
Rússia anexou a Crimeia em seu território, em meados de 2014, estabeleceu-se
uma tensão política entre Donetsk e Luhansh, repúblicas apoiadas pela ex-União
Soviética, e a Ucrânia. O que fez com que o leste do país entrasse em crise.
Em um
relatório publicado em fevereiro de 2021 pelo Escritório da ONU para a
Coordenação de Assuntos Humanitários, publicou-se que cerca de 3,4 milhões de
pessoas nas "áreas de conflito" precisam de assistência humanitária,
cerca de 8% da população total da Ucrânia.
Apesar da
diminuição significativa comparado aos 5 milhões de necessitados de 2015, a
crise parece longe de acabar.
Com a
crescente tensão entre as nações, o risco de uma guerra eclodir nunca foi tão
alto. Acredita-se ainda que a Rússia tem aumentado cada vez mais a presença militar
na fronteira ucraniana. Cerca de 100.000 soldados estariam no local.
Ainda não se
sabe ao certo se os países irão, de fato, atacar um ao outro, ou se uma solução
diplomática vai aparecer. O presidente ucraniano Zalenskiy parece ansioso para
minimizar os riscos de uma investida do país inimigo.
Ele afirmou
durante uma coletiva de imprensa que a Ucrânia está ciente da situação, e que a
ameaça é constante.
"Não
podemos dizer se a guerra acontecerá amanhã, no fim de fevereiro, ou se ela não
vai acontecer. Há o risco, infelizmente. Mas precisamos sentir o pulso do dia -
a - dia", completou.
Vale
ressaltar que a Rússia nega que esteja planejando uma ofensiva, mas não nega a
oposição do Kremlin à expansão da OTAN para o leste.
Os esforços
diplomáticos ainda não foram capazes de resolver a situação. Ao mesmo passo, os
parceiros humanitários do OCHA querem ajudar cerca de 1,8 milhões de pessoas, a
fim de salvar vidas e garantir o acesso a serviços básicos, e fortalecer a
proteção das pessoas que estão passando por dificuldades neste período.
(Fonte:
Folhapress)